Educação Física na Educação Infantil - Educação de Corpo Inteiro
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Professor Simone - Realizado em 2012/1
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Por: Lino Carvalho - Face:Lino.Ufrj - Insta: @Linosfit - @UoLinosFit - CariocaLino
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Alguns conteúdos como slides e apresentações podem ter sido extraviado, muitos por terem sido utilizado em pen drives ou por e-mail, não ficando na impresso!
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Pessoal estou descartando todos meus impressos da faculdade de Educação Fìsica (UFRJ / EEFD), para não perder todo esse conteúdo que há muito tempo me serve como base, estou transcrevendo aqui no meu blog e espero lhe ajudar de alguma maneira
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Para facilitar na localização da questão, basta usar a aba pesquisar acima do anuncio. Assim cole uma palavra da sua pergunta lá e a busca será feita em todo o site.
Por: @LinosFit - @TeamLineco
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FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da educação
física. São Paulo: Scipione, 1994.
Por: Lino Carvalho - Face:Lino.Ufrj - Insta: @Linosfit - @UoLinosFit - CariocaLino
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UMA VIAGEM CHAMADA VIDA
Suponhamos a vida como uma viagem. Ao nascer, saímos de um ambiente acolhedor, o útero, em que temperatura, luminosidade, textura, alimentação, sono, não são perturbados ( ou o são menos) pelos conflitos, pelas dificuldades da vida aqui fora. Não sabemos conscientemente, embora o corpo saiba, ao nascer, o quanto é difícil adaptar-se às bruscas mudanças provocadas pelo nascimento. Ora, quem, ao mudar de um ambiente acolhedor para outro, perturbado, não desejaria retornar ao primeiro? Acontece que a vida é uma viagem sem volta, e não há outra possibilidade que não adaptar-se ao mundo extra-uterino, com todos os problemas que isso acarreta. É possível que nós todos ainda vivamos, apesar de adultos, esse conflito entre o desejo inconsciente de volta para batida de nossa mãe e a necessidade de nos individualizarmos no mundo.
Já que não dá para voltar, a solução é empreender a viagem, sempre para a frente, com os recursos de que dispomos. A criança, ao nascer, de que recurso dispõe? Basicamente, de quase todos os que não precisam ser aprendidos. Como a criança ainda não teve tempo de aprender quase nada, no nascimento podemos observar que parte de seus movimentos são automáticos, o que
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lhe garante um instrumental mínimo de interação. Reage por reflexo aos estímulos de sucção, de marcha, de respiração, de extensão da palma da mão etc. Outros movimentos de que dispõe, chamados espontâneos, são aparentemente difusos, desorganizados e abrangem todo o corpo, especialmente os membros. É com esse recursos motores iniciais que a criança inicia sua viagem pelo mundo, que vai pouco além do comprimento dos braços e pernas ou do alcance visual. Mas, apesar disso, conquista fundamentais para toda a vida são conseguidas pelo recém-nascido. O sugar, por exemplo, é definitivo para tudo o que virá pela frente, pois garante o alimento da criança. Quando uso esse termo,refiro-me ao ato de sugar alguma coisa, senão não existirá ação.
O alimento a que me refiro quando menciono o sugar é muito mais que a ingestão de leite: é a ingestão de afeto, é a fonte da sociabilidade, da cognição, da motricidade e do que mais possa existir na composição do ser humano.
O contato com o seio da mãe é a primeira forma de conhecimento que ela estabelece com outro ser além dela e uma de sua primeiras experiencias afetiva, constituindo também um exercício da habilidade motora de sugar. É um trecho da viagem que não ultrapassa alguns centímetros, mas é como se ela chegasse a um outro mundo.
Talvez seja interessante para os professores que trabalham com crianças tentar entender um pouco melhor o significado do ato de sugar, pois isso seguramente facilitará o entendimento do comportamento de seus alunos. As crianças morrem de tantas espécies de fome e nós continuamos achando que amor, atenção, relações sociais, problemas, não são alimentos! Compreender um ato motor como o sugar mostra-nos que não há desenvolvimento sem alimento, em qualquer de seus aspectos.
Vencida a primeira etapa da viagem, a criança parte para outras, mais arriscadas, mais distantes. Em sua bagagem, entretanto, carrega todas as conquistas da primeira. Seus meios de transporte, que no começo eram os automatismos, passam, após poucos meses, a constituir movimento intencionais. A criança já não sugará só por reflexo, mas por intenção. Os automatismos continuam, apesar disso, a ser recursos muito importantes ( incessantemente, novos movimentos tornam-se automáticos).
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A diferença entre um movimento reflexo (ou automático) e um intencional é que o primeiro é realizado independentemente da vontade da pessoa. Uma vez provocado o estímulo, o gesto necessariamente se manifesta. Surgida a intenção, não basta um estímulo: é preciso que haja desejo, que se queira fazer o gesto. A intenção é um indício, além disso, de que o córtex cerebral amadurece e começa a assumir suas funções.
Nessa segunda etapa da viagem, os atos motores se ampliam. A matriz inicial, de poucas ações, da origem a diversos esquemas motores, de tal forma que a mão que podia pegar agora pode manipular objetos e levá-los à boca, que é capaz de sugar. A criança se arrasta para alcançar as coisas que a atraem, vê mais longe, distingue sons e imagens, engatinha, fica em pé e anda.
Do ponto de vista motor, antes mesmo do surgimento de uma linguagem verbal, todos os esquemas motores básicos estão formados. A criança já pode ver, ouvir, cheirar, arrastar-se, andar, girar, saltar, correr, bater etc. Daí para a frente, seu problema não será apenas criar recursos motores para viajar, mas também criar recursos simbólicos para ampliar os limites dessa viagem. Ela já pode fazer muitas coisas, embora não consiga compreender-las, assim como os outros animais também não podem. O homem, no entanto, humaniza-se. Não é como qualquer animal, pois tem acesso ao símbolo. Ele pode representar mentalmente qualquer ação que realize. E isso o torna diferente. É por isso que não é justo, do ponto de vista pedagógico, investir-se na formação dos movimentos sem levar em conta o desejo humano de compreender o mundo. O ser humano tem o direito de fazer e compreender. A tarefa fundamental da escola é promover o fazer juntamente com o compreender.
Como pudemos observar nessa primeira etapa da viagem, os recursos utilizados são, até onde sabemos, exclusivamente sensório-motores ( o que inclui sentimentos, emoções, relações etc.). O ue quer que e faça daí para a frente, em qualquer idade, desde que seja um ato motor, não passará da adaptação de um esquema motor já construído de antemão. Poderíamos ir mais longe e afirmar que, mesmo a atividade mental que se sucede terá como fonte primária essa rica atividade motora no
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lactante. Sob esse aspecto, estão carregados de razão os teóricos que argumentam em favor de cuidados especiais para que as habilidades motoras estejam suficientemente desenvolvidas em cada etapa de vida, de preferencia de acordo com modelos resultantes de exaustivas pesquisas.
No entanto, ainda que eu concorde com a preocupação em relação à qualidade de movimento, penso que uma má qualidade motora não pode desencadear automaticamente ações terapêuticas ou educativas que desconsiderem a história da criança em seu meio ambiente. Se tal ou qual movimento não se enquadra nos padrões, existem para tanto motivos que devem ser estudados. Quero crer que, de qualquer maneira, as diferenças sociais, étnicas e culturais das diversas populações tornariam impossível que todas as crianças do mundo tivessem ritmos e padrões de movimentos iguais. Para se ter uma vaga ideia do quanto o ritmo do desenvolvimento difere de criança para criança, basta verificar nos livros de Piaget sobre a inteligência sensório-motora como comportamentos semelhantes surgiram, em seus próprios filhos, em idades diferentes.
O ESQUEMA MOTOR
O ser humano, principalmente quando criança, precisa construir seus próprios meios de transporte para empreender essa viagem chamada vida. Se ele não consegue alcançar um objeto que o atrai, que ele deseja, só resta um recurso: Construir um mecanismo que o leve a seu objetivo. Um bebe de poucos meses, que ainda não sabe engatinhar, terá que realizar um enorme esforço, arrastando-se, para pegar qualquer objeto que esteja distante. Em pouco tempo, assim que a maturação biológica gere força muscular e organização nervosa suficientes,o arrastar-se será superado pelo engatinhar. Isso porque o arrastar-se permite à criança uma viagem muito limitada, enquanto o engatinhar já lhe permite ir mais longe e empreender novas conquistas.
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A ação de engatinhar é um fenômeno que integra o sujeito com o mundo, uma perfeita comunhão das partes, um evidencia da indissociabilidade entre as pessoas e o mundo.
Se tivermos o cuidado de observar com atenção uma criança muito pequena em seus intentos para pegar objetos ao redor, verificaremos a dificuldade que alcançar certos objetos provoca linosfit. Com alguns objetos, seu exito é imediato; com outros, haverá uma sucessão de fracassos até que ela obtenha um bom resultado. Por que isso ocorre? Acontece que o esquema que permite manipular um objeto não serve de imediato para manipulação de outro. Cada coisa a ser pega exige uma atividade motora particular. Cada assimilação exige uma acomodação. Podemos verificar, na criança, que seu impulso mais imediato é aplicar ao objeto novo o esquema que já utilizou em outro. Fracassando uma vez, ela tende a continuar tentando, passando, pouco a pouco, a considerar as características do novo objeto, até que o esquema inicial utilizado possa ser modificado, adaptando-se à nova situação.
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Os objetivos do mundo estão à nossa disposição, mas, para alcançá-los, é preciso satisfazer certas exigencias. Podemos assimilá-los todos, desde que paguemos o preço de nossa própria transformação, provocada pelas características dos objetos. É por isso que, se olharmos à nossa volta, veremos que as pessoas cada vez se parecem mais com o mundo e ue o mundo se parece cada vez mais com as pessoas. Ou seja, não apenas sofremos, mas também provocamos transformações no meio ambiente.
Voltando à Educação física, não basta ser especialista em mãos, ou especialista em bolas, para entender o ato de pegar uma bola. A descrição anatômica da mão não permitirá ao especialista entender o ato de pegar, mas poderá ajudá-lo. O especialista em Educação Física deverá ser um estudioso da ação corporal. O que significa isso? No meu entender, quando alguém pega uma bola, já não existem mão e bola, mas uma fusão das duas coisas m algo chamado ação. Como entender a ação motora sem separar uma parte da outra é uma tarefa que depende de mudanças radicais na maneira de entender o mundo, da ruptura com conceitos clássicos da ciência, especialmente os positivistas. A adoção de uma postura crítica de análise, contrariamente à que prevalece atualmente - míope e descompassada com nosso tempo - será fundamental.
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O SURGIMENTO DA LINGUAGEM
Do ponto de vista da gênese do movimento, até o momento em que surge a linguagem, todos os esquemas motores básicos deverão ser sido estruturados. Por que razão estruturam-se tão precocemente esses esquemas? Simplesmente porque envolvem funções biológicas menos sofisticadas que outras, como a linguagem e o pensamento, e porque, para dar conta das adaptações e transformações no mundo, são esses os recursos de que a criança dispõe: as condutas motoras. Alias, quase não se atenta para o fato de ue a inteligencia não é um elemento exclusivamente racional, pois antes que surjam no indivíduo as primeiras representações mentais, já se manisfesta nele um nível elevado de inteligencia corporal, que prossegue mesmo após estruturar-se o pensamento.
As palavras substituem as ações físicas. Se considerarmos o ato da fala também como uma ação física, diríamos que certas ações físicas substituem outras, de outro nível. Uma pessoa, quando começa a falar, pode, através da fala, deixar de realizar certas ações motoras, que passam a ser simbolizadas. A linguagem é fundamental, não só para a estruturação de um nível cada vez mais elevado de pensamento, mas mesmo para a estruturação de outros atos motores. Não podemos falar, o recurso da criança para agir no mundo são as sensações e os movimentos corporais. O problema de adaptação ao mundo é, no início, tão complexo, que o indivíduo precisa dispor de mecanismos cognitivos suficientemente desenvolvidos para dar conta dele.
Fora a questão da cognição, responsável pela adaptação e transformações do indivíduos no mundo, temos ainda questões efetivas, sociais e sexuais.
Como o surgimento da linguagem, nasce-se para um novo mundo, sem fronteiras, ligado ao imaginário, aos sonhos e fantasias, aos projetos e pensamentos. Se observarmos bem, o que fazemos com o corpo ou com a mente não são coisas tão diferentes assim. Quando alguém pensa demais, não se cansa teoricamente: o esgotamento é, sem dúvida, físico. Pensar seria, assim, uma atividade corporal.
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OS PERÍODOS DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL
De Piaget a Frostig, de Ajuriaguerra e Elkonin, o desenvolvimento infantil é analisado em suas diversas etapas. Esse procedimento tem gerado controvérsias e confuções pedagógicas. Uma delas, a mais evidente talvez, é a ideia que se forma, ao se estudarem esses diversos autores, de que esse período de desenvolvimento são estanques, de que um deles começa num certo momento, exatamente quando termina um outro. Convém lembrar que estamos falando de seres vivos, e mais, de serem humanos, o que torna impossível essa precisão matemática na análise do desenvolvimento. Vale lembrar ainda que a periodizações descritas pelos estudiosos referem-se a lapsos de tempo na história da humanidade e que portanto, certos comportamentos motores referem-se a um tempo e a um contexto específicos, e que se tais comportamentos eram assim há séculos ou milênios atrás, provavelmente diferirão em tempos futuros.
Não tenho a pretensão de fazer neste livro uma análise detalhada da gênese do desenvolvimento psicomotor da criança, pois os propósitos deste trabalho são outros. Por esse motivo, para que não permaneçam lacunas graves, estarei comentando alguns autores, de modo que os leitores a eles possam recorrer, acrescentando recursos ao seu projeto pedagógico. Lendo alguns deles e analisando-os, evidentemente sigo alguns, rejeito outros, de acordo com uma estrutura particular de formação e coerentemente com minha prática diária no trabalho com crianças. Assim sendo, meus trabalhos, tanto com crianças como com alunos universitários ou desportistas, seguem um orientação teórica muito mais influenciada por Piaget, Wallon ou Vygotssky, que consideram a atividade motora como um meio de adaptação, de transformação, de relacionamento com o mundo, do que por Betty Flinchum, Bryan Cratty ou Kephart, que veem a atividade motora como um resposta a condicionamentos ou como estruturas pré-formadas no indivíduo.
Por mais que se queira separar o ato humano com contexto de sua existência, para efeito didáticos, como se diz, uma breve repassada pela historia nos mostra que não será por nosso esforço pedagógico apenas que se
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definirão os padrões de movimento, mas sim pelo esforço de adaptação da espécie humana ao mundo e pela incessante construção de uma cultura.
De modo geral, pode-se dizer que, ao nascer, a criança é caracterizada por uma atividade do tipo automática, reflexa, que lhe permite receber diversos alimentos para sobreviver, além de formar e desenvolver recursos vitais. Essas primeiras expressões de vida da criança "" se parecem mais a crises motoras que movimentos orientados", e a essa etapa Le Boulch chama corpo submisso.
Passados os primeiros meses de vida, nota-se que os chamados reflexos arcaicos ( de sugar e agarrar, por exemplo ) começar a ceder lugar aos movimentos intencionais. Le Boulch chamou esse período de etapa do corpo vivido.
Para Piaget, a partir do momento em que as funções nervosas permitem à criança libertar-se dos automatismos, aquilo que era reflexo começa a dar lugar ao aprendido. Ou seja, aparece no indivíduo o comportamento inteligente, os esquemas motores correspondendo, no plano da inteligência corporal, às representações mentais ou pensamentos no plano da inteligencia conceitual.
Para se adaptar ao mundo, para resolver problemas, para agir sobre o mundo, transformando-o, o sujeito constrói movimentos corporais específicos., dirigidos para um fim e orientados por uma intenção: são os esquemas de ação. É por esses esquemas que o ser humano se expressará em todas as ocasiões de sua vida. Como a criança não desenvolveu ainda o privilégio humano de representar por imagens suas experiências práticas, é nesta primeira fase de desenvolvimento em que, por absoluta necessidade, formam-se todas as possibilidades básicas de movimentação corporal.
O primeiro período de vida da criança, que vai do nascimento até o surgimento da linguagem, é chamado por Piaget, do ponto de vista da inteligencia, de sensório-motor. Nele podem ser distinguidos três estágios: "o dos reflexos, o da organização das percepções e hábitos e o da inteligencia propriamente dita". Cronologicamente, esse período é superado pelo próximo, entre um e dois anos de idade aproximadamente. Essa primeira fase é chamada de fase de latência
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A partir do surgimento da linguagem, inicia-se um novo período, que incorpora o anterior e acrescenta ás atividades da criança os símbolos, a representação mental. É a chamada primeira infância, ou período pré-operatório, intuitivo ou simbólico. A questão daí pra frente não será somente o fazer, mas também o compreender. É quando surge, segundo Le Boulch, a função de interiorização, que permite à criança conscientizar-se de aspectos de seu corpo e exprimi-los verbalmente através da função simbólica. A linguagem revela, por exemplo, que a criança coordena ações interiores, pensa, raciocina. Porém, esse raciocínio ainda enfrenta as mesmas dificuldades para se desenvolver que enfrentaram os esquemas de ação do período sensório-motor, como o engatinhar, o andar etc., daí Piaget ter dado a esse período o nome de pré-operatório, isto é, o período de preparação das operações lógico-matemáticas. Em termos cronológicos, tal período se estenderia até os seis ou sete anos, mais ou menos.
Finalmente, após diversos anos aprendendo a se movimentar, a pensar, a sentir a se relacionar, a criança se vê em condições de estabelecer com o mundo uma relação de igualdade. Ou seja, passará de um estado em que se coloca como entro de todas as coisas para um estado onde não é mais centro e sim um organismo relacionado com os outros.
Piaget denominou esse período operatório-Concreto, marcado pelo início da cooperação e do raciocínio lógico. O fato de ser capaz de cooperar pode mudar completamente a expressão motora da criança, pois o que se verá nitidamente serão ações realizadas em função de uma tarefa coletica, e é a esse contexto ( de significação ) que o gesto, nesse período, está relacionado.
Esse terceiro período do desenvolvimento da inteligencia apontado por Piaget revela que a criança construiu um raciocínio lógico, coerente, diante de problemas. Tanto a linguagem da criança se mostra socializada, favorecendo as relações interindividuais, como suas explicações para os problemas tornam-se gradativamente compatíveis com a realidade. No entanto, essa nova forma de pensamento tem seus limites definidos pelo mundo concreto vivido pela criança. Ela não tem, nesse período operatório-concreto, o poder de ultrapassar os
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limites da prática, o que só começara a acontecer com o ingresso na puberdade ou na adolescência. Coincide com a experiência de uma criança de 1 à 4 série do 1 grau, e é o último que diz respeito ao tema deste livro. Em termos de idade, diríamos que ele vai dos 6, 7 anos, mais ou menos, até os 10, 12 anos aproximadamente.
O último dos períodos de desenvolvimento da inteligencia descrito por Piaget começa na adolescência e introduz o indivíduo no mundo dos sistemas e teorias. " Comparado a uma criança, o adolescente é um indivíduo que constrói sistemas e teorias." Nesse período, denominado por Piaget operatório-formal ou hipotético-dedutivo, o sujeito rompe as barreiras da realidade concreta, da prática atual e se interessa por problemas hipotéticos " [...] sem relação com a realidade vivida no dia-a-dia, ou por aqueles que antecipam, com uma ingenuidade desconcertante, as situações futuras do mundo, muitas vezes quiméricas".
A FORMAÇÃO DO SÍMBOLO
A criança constrói mecanismo motores sólidos e sofisticados que lhe permitem entrar em contato com muitas das coisas que existem para se conhecer. Isso, porém, não a satisfaz. Como sua curiosidade não para, a criança quer ir mais longe, quer penetrar mais fundo.
Alguma coisa de muito diferente começa a acontecer um dia: uma função espetacular que só distingue a espécie humana ( e muito precariamente também o chimpanzé) começa a se mobilizar. A maturação biológica coloca à disposição dos seres um recurso que define, na Terra, uma espécie diferente: o Símbolo. Em termos de idade, esse acontecimento é tão variavel que poderíamos falar que as representações mentais ocorrem entre o primeiro e o segundo ano de vida do indivíduo. É compreensível que se leve tanto tempo para revelar imagens, uma vez que os órgãos do corpo responsáveis por essa função se situam na extremidade superior do cérebro, e o desenvolvimento acontece do centro para as extremidades.
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Uma vez tendo acesso ao símbolo, a criança começa a representar mentalmente as ações que vive no mundo. Ora, essas representações mentais são construções que exigem coordenações semelhantes às que garantem as condutas motoras. Uma imagem isolada nada significa em termo de pensamento. Para que este exista, é preciso que as imagens se coordenem em ações, não mais a nível de ações corporais, mas de ações mentais. Porém como para Piaget um pensamento é uma representação mental de um esquema motor, isso é o mesmo que fazer na mente o que se fazia na prática corporal. Lembremos as dificuldades que a criança teve para coordenar seus movimentos corporais. As mesmas dificuldades ressurgirão, agora, no plano mental. Assim como ela foi trôpega para caminhar, será trôpega para pensar.
Há, temporalmente, uma diferença básica entre pensamento e ação física: enquanto em pouco mais de um ano foi possível estruturar todos os mecanismos motores básicos, o que equivale à construção do real, já construído do ponto de vista corporal. Daí que essa nova etapa da viagem, que começa quando aparece o pensamento simbólico, adquire características muito especiais.
No meu entender, uma das coisas que explicam esse notável desenvolvimento motor que precede a linguagem, é o fato de que o aparelho cognitivo (responsável pelas adaptações ao mundo), dispõe, para dar conta dos problemas de adaptação, unicamente de recursos sensoriais e motores. Não podendo resolver problemas mentalmente, a criança ´só pode faze-lo corporalmente. Não podendo falar, tem que fazer. Somente mais tarde, quando surgir a linguagem, essa intensa atividade corporal será parcial e gradualmente substituída pelo pensamento e pela fala. Ou seja, o problema que se coloca para a criança não é ainda compreender o que fez, mas conseguir fazer, tarefa que, num certo sentido, pressupõe um certo tipo de compreensão corporal. Esse fazer corporal é o primeiro plano do ato de fazer. Uma vez estabelecido, segue-se um outro plano, o mental, através do qual as ações humanas tomam um rumo sem precedentes na história dos seres vivo de nosso planeta.
